Antes que o mundo acabe

Preciso dizer algumas coisas e mais ainda de respostas.
Nem sempre somos o que gostaríamos, ou o que precisávamos, ou o que esperavam de nós. Somos o que somos. Nem mais, nem menos.
Isso me leva a outro pensamento. Relações pessoais são complicadas. Lembro que num belo dia de sol na Chapada, me veio a nítida certeza que “é o umbigo do outro o centro do Universo”. Então relações exigem uma boa dose de compreensão, aceitação e, sim, sacrifícios.
Explico: como nem tudo é o que parece, muitas vezes a compreensão dos limites do outro, nos leva à aceitação e, por conseqüência, ao sacrifício de posturas, conceitos, entendimentos, (e porque não?)amor próprio.
Explico mais uma vez: o que chamo de sacrifício é a nossa capacidade de aceitar o outro, mesmo sabendo que esse outro não é o que queríamos, o que precisávamos, ou o que esperávamos.
Simples assim. O outro é mesmo o Outro. Diferente de nós, ou mesmo tão igual! E não espere que esse Outro entenda seu lado. É melhor esquecer esse tipo de ilusão. Lembra qual é o centro do Universo? Pois é!
Mas precisamos deles. Dos Outros. Não é à toa que nossa Identidade depende, em última instância, das Alteridades, singulares ou plurais. Vale dizer que sem esses Outros não somos, porque, via de regra, é no confronto com o Outro, o diferente, que definimos e afirmamos o que somos, o Eu Sou.
Também sem eles não vivemos, porque viver significa estar, continuamente, construindo e desconstruindo laços. Sem esse vai e vem de amores não teríamos vida. Afinal somos um ser social, e nossa humanidade se constrói diariamente no confronto amoroso com o Outro.
E quando tudo se torna mais difícil, quando exigem que abramos mão de valores e de crenças, quando temos que enfrentar a dura realidade de que somos realmente periféricos, é melhor lembrar da máxima cristã que nos ensina a “amar o próximo como a si mesmo”.
Na minha leitura isso significa que a medida do nosso amor pelo Outro deve ser a mesma que define o nosso amor por nós mesmos. O que também me lembra o valor do equilíbrio entre o “dar e receber”. Ser humano é ser social e relações saudáveis se estabelecem num ambiente de trocas – afetivas e materiais, onde afeto e bens são moedas de troca que não podem ser confundidas porque atuam e valem em esferas diversas. Uma é material, vale no campo físico; outra é imponderável, só vale no campo dos sentimentos.
Agora falta só falar dos sacrifícios. Segundo os dicionários sacrifício, do latim sacrificium, significa “abandono forçado ou voluntário daquilo que nos é precioso; renúncia.” No caso das relações pessoais muitas vezes sacrificamos nossos sonhos, nossos ideais, nossos valores, nossas crenças, em benefício do Outro, mas quase sempre esse sacrifícar tem em vista nosso bem estar. Difícil de acreditar? Então veja: quando sacrificamos, normalmente, adquirimos créditos. Em gratidão, em isenção, em tranquilidade, ou em aparências.
Percebemos o Outro? Como ele realmente é? Aceitamos as diferenças? Sem ilusões? Estamos disponíveis à aceitação do que somos e de como é o Outro? Nossa aceitação nos rende dividendos, ou estamos pagando juros altos pelo amor que recebemos?
São essas as questões para as quais busco respostas.

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