Brasil, Brazil, (de)sertão e ressaca

Estou numa ressaca braba, motivada por antibióticos, corticoides e tais. Infecção pulmonar É!… E pra completar escrevo, alucinadamente, porque “na idade em que estou” quando “aparecem os chistes, as manias” sinto o peso dos anos. Por isso a escrita “alucinada”. Penso, sem pensar, que estou velha o suficiente pra pifar o motor, bater a biela, etc, etc.

Mas isso é só um sentir inquieto, por conta da fragilidade que se instala no velho quando os problemas de saúde se apresentam e se avolumam. Coisas da idade. É automático – adoeceu, pensou em morte. Alguém consegue escapar desse ciclo?

Aí o celular apita uma notificação. Mais uma nessa manhã de quinta. Desde ontem o caos ronda a mente e o pote da indignação só enche. Previdência, ou a morte dela; fim da ideia de Bem Estar Social que tentou nos nortear por alguns anos; o circo do Executivo Nacional; a violência explicita que campeia sem freio na sociedade; e a ganância do capital. É muita coisa pra ser digerida em muito pouco tempo e nem mesmo sei se há a possibilidade de digestão desse angú, mesmo com nosso tradicional estômago de avestruz e  nosso costumeiro “deixa como está pra ver como é que fica”.

Me parece que nos anestesiamos ao longo desse período de relativa democracia. Nós nos indignamos e nos quedamos indignados em nossas poltronas, em frente a telas. Acomodados no terror e pânico de dias piores. Dá pra ser pior? Claro que dá! Quando nossa população voltar aos índices de miséria históricos que sempre nos marcaram.

Tenho a nítida sensação que estamos caminhando, a passos largos, para a escravização da população mais pobre a patamares idênticos ao do período colonial, com a suprema indiferença das camadas médias as quais, por algum distúrbio de percepção se acreditam privilegiadas.

Agora vejo movimentação de tropas na fronteira do país vizinho e me pergunto em que aventura nos metemos. Parece que a noção de colonização para a classe política brasileira não passa pela venda escancarada dos nossos ativos, incluindo-se aí a população, desde que os bolsos estejam recheados. A sensação é a de que acreditam serem cidadãos do mundo, incólumes e impolutos cidadãos “de bem”. Mas, se nos vendem, não seriam também apátridas? Ou vamos, de novo, voltar aos dois brasis: O BraZil – que pode até mesmo ir à guerra com o vizinho pra defender  a ganancia do capital norte americano – e o BraSil, usado como espaço de expropriação? Nos estudos que faço atualmente, fica muito claro pra mim a ideia de que determinados espaços geográficos, culturais e sociais, denominados sertão, na realidade são vistos como espaço de exploração econômica, politica e cultural. Na realidade, constituem-se como (de)sertões de civilização para grupos de interesse. Nessa ótica, o BraSil é, inteiro e definitivamente um (de)sertão.