Gol

Parece pintura. Não é. Essa foto foi tirada em João Pessoa, Paraíba em 1º de novembro de 2009, numa viagem Salvador / Macau, Rio Grande do Norte.

O que chamou a atenção da minha lente foram duas traves numa praia deserta. E, já que tudo depende em última (e em primeira) instância do lugar do qual se fala, ou se vive, as traves vazias marcam um simbólico ponto de vitória, ou de derrota. São um nada na praia deserta. Ou são tudo. Tudo o que se vê do humano.

Em outros tempos e lugares poderiam ser quaisquer outros símbolos. Não são. Aqueles dois postes fincados na areia demarcam uma instância de resultados e escolhas. Do sujeito que escolhe correr para a esquerda quando a bola vem pela direita, ou do outro sujeito que arrisca o pontapé do meio do campo, mirando um corredor entre seu pé e o vazio entre os dois postes. Foi gol! Para um ou para o outro a vitória e a derrota são pontos no espaço e lugares de visão e de fala. Ou seja, assim é se lhe parece.

Podia ter sido o resultado de um trabalho em equipe, mas tanto na vida quanto no jogo, o gol sempre é o resultado da individualização momentânea sobre a coletividade. Aquele instante em que o sujeito deixa o coletivo para viver sua jornada heroica, retornando depois ao mesmo coletivo com os frutos da derrota ou da vitória individual a serem coletivizados[1].

E se comemora, ou se chora junto.

 

[1] A construção deste texto foi possível pelas leituras de:

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1997. Edição eletrônica Digital Source. Disponível em: http://groups.google.com/group/digitalsource Acesso: 25/10/2018.

MATA, Giulle Vieira. O segredo do boi misterioso nos romances de vaqueiros. Revista de dialectología y tradiciones populares, vol 58, No 2, p. 33-70, 2003. Disponível em: http://rdtp.revistas.csic.es/index.php/rdtp/article/view/150 Acesso: 23/9/2018.