Pelo caminho

Assim vejo a vida.
Um caminho longo que vai do nada a lugar nenhum.
É apenas um caminho que percorremos. Às vezes a sós, às vezes acompanhados.

Do lugar onde estou posso vê-lo se estendendo ainda à minha frente.
E vejo atrás.
Posso ver o riacho tranquilo onde brinquei quando o tempo era infinito. Vejo o rio caudaloso, cheio das águas de inverno. E, nesse tempo, o tempo ainda era infinito e eu não percebia que enquanto andava muitos iam lentamente se atrasando.

A vida ainda era sem fim.

Descansei sob mangueiras, queimei os pés nas areias de muitos desertos. Atravessei muitos bosques. Fiz oferendas aos deuses das florestas, dancei com os ventos, me banhei em muitos rios.

O trecho que percorro agora é limpo e claro. Tranquilo e civilizado. Pus bancos às margens, para descansar os pés quando me doem. Tem sombra de árvores, o sol é manso e a chuva mal umedece o chão macio de terra amarela.

Mas é nesse pedaço civilizado de vida que me percebo só. Não solitária.
Olho à frente os que se adiantaram, vivendo seu próprio infinito.
Olho atrás e descubro todos os que ficaram nos seus próprios recantos.

Essa é a grande ironia. Andamos na mesma estrada, mas no próprio passo.

Ainda bem que inventaram a internet.

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