Pensamentos esparsos sobre o amor, as imagens e o real

Comecei a pensar sobre essas coisas há algum tempo, quando me dei conta de que muitas vezes a pessoa amada não é a mesma para todos os outros que a amam. Não sei se me faço entender, mas, por exemplo, o pai que eu amo, não é o mesmo pai das minhas irmãs. E por aí vai. O mesmo acontece com todos, pelo menos é o que penso.
No meio dessas elucubrações, fui ver Persona, de Bergman e me lembrei de uma conversa em família sobre os amores entranhados de uns para com outros. Claro que, entre uma e outra coisa houve um bom intervalo de tempo. Mas, juntando uma coisa e outra, uma crença e outra, resolvi abrir o pensamento para entender melhor a questão.
Na época da conversa, pensei até que falávamos de pessoas diferentes e não de uma tão conhecida e tão próxima. Conferi em outros momentos a percepção que outro familiar tinha da mesma pessoa. Resultado? Não batia, nem com a minha percepção, nem com a do outro. Fiquei assim com três pessoas diferentes relacionadas ao mesmo ente.
Mesmo tendo passado o ano de 2013 às voltas com Jung, não havia me dado conta, mas ai veio Bergman, com sua inquietante narrativa e eu, literalmente, caí do cavalo das certezas, pensando furiosamente: Valha-me São Ingmar! O que, ou a quem amo? Onde fica o ser real, o ser-em-si que amo? Porque, mesmo convivendo por cinquenta anos com alguém, será sempre uma imagem o que amarei. Porque o que é real pra mim é apenas minha percepção do real. Não tenho como acessar o ser-em-si a não ser através das minhas percepções, que podem ser mais, ou menos acuradas. E melhor, ou pior decodificadas e entendidas. E isso vai depender sempre de condições minhas, intrinsecamente minhas.
Há um bom tempo atrás, tinha definido com meus botões que, o que entendo como mundo externo não seria tão externo assim e pelas mesmas razões. Mas ainda não havia pensado nas consequências disso quando em direção às emoções e sentimentos. Concluo então que, o que amamos é a imagem que temos do individuo e não o ser-em-si, porque esse é inacessível.
E é bem nessa hora que percebo outra ponta de inquietação me verrumando o cérebro: se o outro é a imagem que tenho dele, o que eu sou para mim? Imagens, claro! – me sopra Alma no ouvido – você é a soma de imagens. A que faz de si mesma, superposta às que você acredita serem as que os outros fazem de você, sombreadas pelas que os outros querem de você.
Então, é isso. Vivemos num mundo de ilusões, de imagens que se sobrepõem, se interlaçam. E é isso a realidade.

2 Respostas para “Pensamentos esparsos sobre o amor, as imagens e o real

  1. Nossa!!! Ao ler, fui me dando conta que já sabia ou concordava com essa análise do amor e de mim mesmo, ao menos ,de um modo inconsciente! De certa forma, venho fazendo esse exercício de entender o mundo das imagens que vivemos e que nos constitui. Agora, ao ler, ficou mais claro! Um misto de alívio e angústia. Angústia da eterna pergunta: quem sou? Mas, deixo a angústia de lado e vou viver a pergunta entre imagens e sombras e, claro, luz. Sem ela, nem sombra e nem imagem!

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