Pensando em realidade, lembrança e loucura

Abri as janelas pra deixar correr o vento e penso um pouco sobre realidade e lembranças.
A água quente do chuveiro nas minhas costas, o cheiro do sabonete, o chão frio sob os pês se aquecendo lentamente, a toalha áspera, o toque da roupa na pele, a sirene da ambulância lá fora, e o vento assobiando com força na janela. Isto é minha realidade. Mas não será lembrança?
Penso que é realidade porque concordo com o filósofo que diz que a realidade é a percepção que temos dela através dos nossos cinco sentidos, processada pelo cérebro, que a decodifica, interpreta, seleciona, significa e armazena.
Mas, na fração de segundo em que esse processo se conclui, já não virou lembrança? E nesse caso minhas lembranças também não poderiam ser classificadas como realidade? Qual a importância de espaços de tempo mais ou menos longos para diferenciar realidade e lembrança?
Lembrança se refere a realidades passadas? Nesse caso o banho que encerro agora também não é passado? Lembrança, portanto? E aí? Cadê minha realidade?
Se minha realidade é tão fugaz quanto a mais leve brisa, que apenas sonha em tocar as folhas, que diferença faz se vivo de realidades ou de lembranças de realidades?
Nos acostumamos a pensar o tempo linearmente, com passado, presente e futuro bem delimitados e definidos, e a cada uma dessas etapas nomeadas atribuímos uma realidade forte e contínua. Mas pensando com meus botões, o tempo não é mesmo circular?
E afinal, que diferença faz se a realidade que temos é tão ilusória quanto nossas lembranças? Isso não nos faz tão loucos quanto qualquer que rasgue dinheiro, coma merda e se pense Napoleão?
Então, por mim, viva a loucura!
Porque eu a viverei em cada instante em que vida houver!

Deixe um comentário