Sobre as manhãs de domingo e os caminhos da vida

Manhã de domingo, o sol queima na cumeeira e eu fico quieta pensando.
Gosto dessas manhãs, quando a casa silencia apesar de cheia. Elas sempre me lembram de outras manhãs quando o tempo era uma incógnita sem fim e o mundo estava à minha disposição.
Não deveria ser uma manhã de pensamentos sérios, mas não é sempre que podemos nos dar ao luxo de escolher a fonte das nossas (pré)ocupações.
Hoje é um desses dias quando as idéias saltam na mente sem controle e desatino a fazer profundas elucubrações sobre tudo. Quando algumas situações me enchem juízo e sei, de antemão, que não teria nenhum curso viável de ação, visto que, em geral, são coisas que não me dizem respeito.
Tive uma noite inteira entre uma conversa séria e esta manhã de domingo, mas mesmo assim acordei com várias questões pendentes sobre autoestima e seus derivados: autorrespeito, autoproteção, autoimagem, o que para algumas pessoas são itens em queda livre.
Esse é o tipo de conversa que me deixa frustrada. Vejo o que há pra ser visto – a fuga, a falta de amor próprio, a incapacidade de se aceitar e reconhecer as próprias falhas, a dificuldade de estabelecer e cumprir metas simples – e não tenho como ajudar.
Os caminhos são particulares. Cada um constrói e palmilha o seu próprio.
Seria mais fácil pra mim, se pudesse ser cega e surda ao outro, mas se tenho a capacidade de ver e ouvir o que não é expresso deveria também ter a possibilidade de, ao menos, indicar as curvas mais perigosas, as subidas mais íngremes, as descidas traiçoeiras. Me vejo, no entanto, impotente. Não sei se o dito foi entendido, se a placa de aviso que coloquei foi lida, se a mensagem ficou.
Vejo pessoas presas ainda a marcos passados e ultrapassados, incapazes de construir novas sinalizações para seus caminhos.
Ainda brecam por um Pare que ficou há anos atrás; ainda pisam fundo numa tangente que já não existe, sem ver que seu caminho chegou a um trecho impedido, ou inicia uma série de perigosas curvas alternadas.
Muitos parecem sonâmbulos à margem da vida prestes a serem atropelados. Não veem, não ouvem, não sabem dos outros em alta velocidade que cruzam seu caminho.
Talvez minhas palavras lhes cheguem. Espero que além delas lhes chegue também o discernimento e a vontade de ser o senhor de si mesmo.

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